/Por Elza Macedo: sobre a Conferência Inaugural de Jorge Forbes no Instituto da Psicanálise Lacaniana

A Catedral da Sagrada Família, de Gaudí, em Barcelona, não completada. Lacan também deixou um grande canteiro de obras. Forbes parte desta analogia para comentar sobre os aforismos que elaborou, cujo título Provocações Psicanalíticas, é uma homenagem a Antonio Abujamra. Seus aforismos desembocam na tríade sinthoma, corpo e laço social, tema das XVI Jornadas Clínicas, da EBP – Rio de Janeiro, em que Forbes foi convidado a falar sobre A clínica além dos limites da saúde mental. Afirma que a área da saúde mental é limitada, não é clínica e se inclina a uma ortopedia comportamental. Tende a tratar do humano através da estatística e da epidemiologia. E a presença do real? Real é o que descompleta o Outro. Lacan, no Seminário Encore diz: “Eu sempre digo a mesma coisa. Localizo o real nas mais variadas formas de expressão do homem.”

Forbes comentou cada um dos 24 aforismos. Seguem-se alguns pontos que destacou. Se Freud tratou do homem traumatizado, hoje a psicanálise trata das amarrações que a pessoa faz. Em um mundo com excesso de possibilidades a pessoa não sofre do trauma, mas da desorientação. Uma análise não é para se conhecer mais, mas para agir sabendo do limite do conhecimento. Detectar o menos no conhecimento e possibilitar uma ação sem garantia, arriscada. Esse menos é o que impulsiona, é o objeto causa do desejo. Em psicanálise trata-se mais de reescrever a história. Lembrar a história faria a psicanálise determinista. O sofrimento decorre do que se interpreta. A clínica é uma ética e não uma moral. Moral gera modelo de comportamento. Lacan apresenta a topologia que há na amarração entre os registros do imaginário, simbólico e real, que se juntam no sinthoma. Sinthoma como precipitado duro que resiste ao deciframento. No real há um furo que obriga a inventar uma solução.